33 anos depois

Por Rolando Lazarte (*)

29 de março. Os Beatles cantando na vitrola. Qual a canção? Ouça mais uma vez. Tente lembrar. Lullaby. Once in the way. As palavras vinham como um rumor de anjos. You´re gonna carry that weight, ouviu com claridade.

You never give me your money. Um anjo cantava no seu ouvido. Não sabia como escrever. Maria. Rosana. Omar. Tarde de sábado. Ela descera as escadas. Sarita Carubin. Gita. Lluvia. Blanca. John Lennon. Ringo.

Encontraria uma editora latino-americana, argentina, brasileira, sei lá. Encontraria. That is the end, ouvia. Era a palavra de ordem. Seria mais um desaparecido? Não sabia. Passaram 33 anos e agora já não mais esperava.

Apenas ouvia a chuva paraibana, pessoana. Borges, de algum lugar, cantava composições para a Gesta de Beowulf. Conclusões? Não me venham com conclusões. Maria declamava, na tumba do poeta, Lisboa, 2008.

Nem a morte é uma conclusão, agora sei. You´re gonna crucify me. Papá e mamá em algum lugar, juntos, oravam. Mais uma vez, aguçara o ouvido. Diogo estava aí, onde? You´re gonna be easy. Não entendia muito, mas sabia.

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(*) Sociólogo. Autor de Max Weber. Ciencia y valores (Buenos Aires: Homo Sapiens, 2005). Voluntario en el Grupo de Estudos em Saúde e Sociedade, Programa de Pos-Graduação em Enfermagem, UFPB. Membro do Conselho Editorial da Revista Consciência, colaborador da Revista eletrônica Veneno e membro da base sindical da ADUFPB.


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