Sílvio Tendler: "Folha" é jornal direitista berlusconiano

Prezados,

apressado come cru.

Fui brindado pela Folha com o adjetivo de “esquerdista” por ter enviado carta ao ministro da Justiça pedindo que sua decisão fosse favorável à permanência de Battisti entre nós. Meu gesto foi de caráter humanitário. Se isso é ser esquerdista então está bem, aceito honrado.

A Folha ainda escreveu que comemorei a decisão. Ora apenas cordialmente respondi a uma chamada de uma repórter que me ligou para confirmar se tinha escrito a carta ao ministro. Confirmei, disse que assumia meu ato com convicção e que iria escrever ao ministro cumprimentando-o pela decisão. Se isso é comemorar, tudo bem. Então tive uma atitude que me projeta na esquerda festiva (esquerdista que comemora é isso?).

Até aqui tudo bem, é o meu que está na reta, mas continuemos neste exercício de lógica.

A Folha comemorou à sua maneira o gesto do ministro, com um editorial de reprimenda à atitude do governo (sim, do governo, o presidente da República endossou o gesto do ministro).

Mas, já que a Folha não quis colocar seus repórteres em campo para apurar na Itália as repercussões do gesto brasileiro, poderia ao menos ter esperado para assistir ao Jornal Nacional de ontem (16/01), na insuspeita Globo, quando a repórter Ilze Scamparini fez o trabalho que os editorialistas da Folha não quiseram fazer e ouviu políticos italianos. O único que se manifestou favorável à extradição foi um ministro do governo Berlusconi que ameaçou o Brasil com retaliações.

O Jornal Nacional entrevistou um jurista dos Comunistas Refundadores que elogiou o gesto Brasileiro e o Jornal informou, ainda, que Francisco Cossiga (ex-ministro e que assinou a lei anti-terror) declarou ser a favor de uma anistia e que era contra o retorno de Battisti à Itália.

Portanto, desconfio que:
1 - a Folha anda mal informada sobre minha pessoa; e
2 - muito mal informada sobre o caso Battisti.

E, uma vez que, por ilação, conclui que sou esquerdista, também posso concluir que a Folha é jornal direitista berlusconiano.

Abraços,

Silvio Tendler

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