Introdução à Saúde Mental Comunitária, por Rolando Lazarte

O presente texto é uma introdução à temática do título, para o qual se solicita a os leitores e leitoras de Consciência,a colaboraão a través dos comentários postados neste Blog.

Cada vez mais, a saúde mental vem sendo entendida como uma categoria de ação, na prevenção do adoecimento. Nesse contexto, no Brasil e já em vários países da América Latina, existem ações governamentais e sociais, que potencializam o poder curativo de ações das próprias comunidades e pessoas, que as afastam do modelo assistencialista e hospitalocêntrico, empoderando indivíduos e famílias, grupos de moradores entrelaçados por laços de vizinhança, pessoas antigamente estigmatizadas como doentes mentais, na recuperação da autoestima e do pertencimento social, da recuperação da autoimagem, a memória e a história de vida. Iniciativas como a da província de Chubut, na Argentina, mobilizando equipes de saúde mental comunitária, Uruguay, onde já por segundo ano consecutivo, a terapia comunitária integrativa e sistêmica do Prof. Adalberto de Paula Barreto vem se estendendo com o patrocínio da Universidad de la República, o Ministério do Desenvolvimento Social, ao ponto de, neste ano de 2009, estar se realizando no departamento de Paysandú, o primeiro curso para formação de terapeutas comunitários para América Latina, nos dão a pauta de que iniciativas em Venezuela e Colômbia, Chile e México, podem e devem ser incentivadas. Neste sentido, a Universidade Federal da Paraíba vem desempenhando um papel importantíssimo, haja vista os trabalhos de extensão em andamento no Departamento de Enfermagem em Saúde Pública e Psiquiatria, do CCS, bem como no Programa de posgraduação em Enfermagem. Consistem eles no engajamento de alunos e docentes nas atividades de prevenção do adoecimento mental de comunidades periféricas da Paraíba (Cabedelo, João Pessoa, Patos, Souza), o que vem redundando em melhoras tanto na formação acadêmica dos universitários, quanto na melhora nas condições de vida das populações mais necessitadas. A equipe docente envolvida na formação de recursos humanos e ações em Terapia Comunitária, constituída pelas professoras Dras Maria Djair Dias e Maria de Oliveira Ferreira Filha, Ana Maria Cavalcante Lopes e Rolando Lazarte, vem capacitando agentes comunitários de saúde e moradores, pessoas envolvidas com a promoção da saúde comunitária e gestores públicos, com participação ativa da Irmã Ana Vigarani, da Pastoral da Saúde, bem como com apoio do Professor Adalberto de Paula Barreto e a Professora Miriam Rivalta, do MISMEC-CE, ambos envolvidos na formação acima citada, a ocorrer no mês de junho (dias 1 a 9) no Uruguay. É de se destacar que a Professora Maria Filha é membro da equipe de enfermeiras experts em saúde mental das Américas, da OPS-OMS, bem como as enfermeiras Silvia Melia, da Universidad de la República (Uruguay), Gloria Montenegro (Argentina), Maria Navarro (Venezuela) e Edda Bustos (Chile). Esta rede de promoção em saúde mental comunitária vem sendo construida com o apoio incansável da Dra Silvina Malvarez, da OPS-OMS, bem como do Dr. Hugo Cohen, médico psiquiatra e militante ativo e antigo da luta antimanicomial na Província de Rio Negro, na Argentina. É de se enfatizar que iniciativas recentes (2004 até hoje, com projeção de continuidade) envolvem a assinatura de convênios da UFPB com a Uiversidad de Carabobo (Valencia, Venezuela), bem como com a Universidad de la República, do Uruguay, como também, esperamos, com outras universidades latinoamericanas envolvidas (ENEO/UNAM, do México). Esta longa introdução quer situar os leitores e leitoras, na dinâmica de ações em andamento, que vem reformulando, na prática, o conceito de saúde mental comunitária, enfatizando o coletivo frente ao individual, desfazendo antinomias antiquadas que opunham indivídio e sociedade, a pessoa e a comunidade. A pessoa é comunitária, social, e a comunidade é formada por pessoas que vivem em rede, em relação, e que frequentemente, destroem suas vidas, por relações perversas consigo mesmas, com a vida e com os outros, desembocando em depressão, vícios como as distintas drogadições, violência doméstica e todo tipo de sofrimentos que são evitados mediante a promoção da saúde comunitária. Os governos cada vez estão mais incumbidos na prevenção integral social (ONA venezuelana, SENAD brasileira, Junta antidrogas uruguaia, Prefeitura Municipal de João Pessoa, na Paraíba) por entenderem que se reduzem custos nos cofres públicos medidos em termos de despesas hospitalares com internações e tratamentos, medicamentos ineficazes e dispendiosos, perdas de horas trabalhadas. A realização do próximo encontro internacional de pesquisa em terapia comunitária em Beberibe (Ceará) servirá para socializar estas experiências e potencializar a sua expansão. Enquanto o sistema capitalista rompe, nós costuramos. Essa é a nossa missão, essa, a nossa vocação, que exercitamos com prazer e com alegria, quer nos caminhos do sertão nordestino, quer pelos caminhos da nossa querida América latina, às voltas com persistentes esforços de reconstrução constante a que as comunidades, as pessoas, as famílias e as nações, vem sendo empurradas, ao sabor de outros tantos golpes desferidos elas classes dominantes e pelos seus braços armados, financieros, empresariais, governamentais. Na contramarcha dos esforços destrutivos, a marcha das formigas, a construção das redes solidárias, a terapia comunitária, a resistência das pessoas que não se rendem às instâncias de dominação que lucram com a fome e a injustiça, a violência e a exclusão social, a exploração do homem pelo homem numa sociedade que prioriza o ter e não o ser. Nós vamos pela via da construção, da ajuda mútua, do reconhecimento da diversidade e o reforço da identidade de cada um pessoa, família, comunidade, nação, região. Escrevo isto para mim mesmo e para vocês, tecelões e tecelãs da utopia. Recordo, nesta hora, tantos seres que passaram ela minha vida e pela terra, fazendo flores das suas dores. Os Davis enfrentando os Golias. A sociologia retomando seu papel libertador, ao lado do pensamento de Paulo Freire e de Jesus Cristo, de Karl Marx, e dos combatentes da Igreja dos pobres, dos lutadores e lutadoras do mundo todo que são, nesta hora, chamados a se levantarem mais uma vez para lutar pelos seus direitos. É isto.

O autor é sociólogo, autor de Max Weber, ciência e valores, Mosaico e Resurrección.
Membro do Conselho editorial de Consciência e do grupo Nós também somos Igreja.

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