Celso Lungaretti
A memória do governador paulista José Serra parece já estar sendo afetada pela... ida de S. Exa., com malas e bagagens, para o campo da direita.
Pois, como muitos enfatizamos quando o presidente Lula proferiu aquela frase das mais infelizes sobre sexagenários que continuam revolucionários, idade não implica, necessariamente, o abandono de ideais.
Comentando o tumulto ocorrido na escola em que estudou entre 1955 e 1959, a Antônio Firmino de Proença (no bairro paulistano da Mooca), Serra disse: "No meu tempo não tinha isso. Não me lembro de ter acontecido".
Ora, eu estudei a partir de 1962 no então Ginásio Estadual MMDC, também na Mooca, e logo no ano do meu ingresso houve um protesto dos alunos contra a tentativa da diretora de impor a obrigatoriedade do uniforme escolar.
É que o curso era noturno e quem já trabalhava teria dificuldade para efetuar a troca de roupa.
O protesto então ocorrido também pode ser caracterizado como tumulto: as três pistas descendentes da av. Paes de Barros foram interrompidas e os alunos gritavam palavras-de-ordem bem ofensivas contra a diretora, na linha de que a profissão dela seria mais antiga ainda que a de educadora...
A diferença não foi, portanto, a inexistência de tumulto, mas sim o comportamento civilizado da polícia, que soube agir como quem está lidando com estudantes e não com marginais.
Já a polícia do governador Serra conseguiu transformar em batalha campal o que começou como um incidente banal: dois alunos entraram na escola pulando o muro, por estarem proibidos de frequentá-la em outros períodos, devido a seu "mau comportamento".
O diretor, absurdamente, chamou a polícia. Se não é capaz de resolver sozinho uma situação dessas, tem mais é de ser removido imediatamente do cargo.
Autorizar a entrada da polícia numa escola tem de ser sempre a última opção, esgotadas todas as outras (ou quando a ameaça é realmente grave, como a presença de traficantes, de pessoas armadas, etc.).
A corajosa polícia de Serra, ao ser informada de que os alunos estavam escondidos no banheiro, preferiu não correr riscos: atirou gás de pimenta para obrigá-los a sair.
Se estudantes menores de idade (um tem 14 anos e o outro, 16) são tratados desta maneira, dá para imaginarmos o quanto os direitos constitucionais dos verdadeiros contraventores devem estar sendo pisoteados.
Exibição tão gratuita de violência -- ambos foram, além disto, agredidos, segundo dizem os colegas e eu acredito -- revoltou os demais alunos, provocando revolta e depredações.
Eis o saldo da desastrada operação policial: dois adolescentes na delegacia, 47 vidraças, 25 cadeiras, 27 mesas, quatro lixeiras e um banco quebrados
Inquirido sobre seus sentimentos em relação a um episódio tão deprimente ter ocorrido em sua antiga escola, Serra declarou: "Ficaria [igualmente] chateado se fosse em qualquer [outra] escola".
Concordo. Exatamente por isto, Serra tem de punir de forma exemplar os policiais poltrões, incompetentes e truculentos que agiram numa escola como se estivessem invadindo o QG do Fernandinho Beira-Mar.
E colocar o diretor do Firmino de Proença numa função mais adequada a suas aptidões, como, p. ex., a de burocrata que passa o dia carimbando papelada e não precisa administrar pessoas em situações de crise.
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