Celso Lungaretti
Recapitulando. Dois alunos de uma tradicional escola paulistana (a Antônio Firmino de Proença, na Mooca), com idades de 14 e 16 anos, estavam proibidos de frequentá-la em outros períodos por "mau comportamento", mas a invadiram anteontem (14), pulando o muro.
O diretor chamou a polícia. Esta usou gás de pimenta contra ambos, que estavam escondidos no banheiro, depois entrou e os agrediu. Os colegas se revoltaram e começou o quebra-quebra, que teve como saldo 47 vidraças, 25 cadeiras, 27 mesas, quatro lixeiras e um banco quebrados.
No day after, o Governo Serra continuou se comportando segundo o figurino das administrações reacionárias: anunciou a instalação de 11 mil câmeras nas escolas estaduais, para colocar os alunos sob vigilância permanente, no melhor estilo Big Brother (o do 1984 orwelliano, não o lixo global...).
De resto, está cada vez mais evidenciado que a revolta dos estudantes foi uma reação às condições deploráveis em que encontravam-se seus dois colegas ao serem retirados do banheiro.
Quanto ao diretor do estabelecimento, eis o coroamento do seu papel no episódio, segundo comentário que um aluno enviou ao meu blogue (anonimamente, claro, para evitar represálias): "Eu estava lá, e vi quando os 2 alunos saíram do banheiro chorando e pelo que eu ouvi eles também apanharam dos policiais, e vi que o diretor sabia que eles estavam apanhando no banheiro, e ficou na porta para que ninguem entrasse".
Reitero, ainda mais enfaticamente: se não sabe a diferença entre educador e repressor, tem de ser removido o quanto antes do cargo!
E é inaceitável que esteja alegando tráfico como desculpa. Não foi encontrada droga nenhuma com os dois alunos; ademais, se eles fossem traficantes, já teriam sido expulsos há muito tempo, e não proibidos de frequentar a escola em determinados períodos.
O diretor colocou a si próprio em xeque-mate: ou errou antes, não expulsando traficantes; ou errou agora, açulando a polícia contra jovens inofensivos e mentindo para tapar o sol com a peneira.
Prefiro acreditar em quem tem credibilidade: as vítimas. Explicaram ter pulado o muro para acessarem a internet nos computadores da escola. Fico com a versão que faz sentido.
Finalmente: extinguiram o Juizado de Menores? Caso contrário, a intervenção policial terá sido mais abusiva ainda.
Aguardam-se do Governo Serra punições (aos policiais e ao diretor), explicações (à opinião pública) e pedidos de desculpas (a todos os alunos). É o mínimo que se pode esperar de quem um dia presidiu a UNE.
Quanto às tais câmeras, o decoro me impede de apontar o local mais apropriado para sua inserção...
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