65,4% dos entrevistados pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, todos moradores de favelas, afirmam que a cobertura da imprensa (jornal, rádio e televisão) dos fatos que ocorrem dentro das favelas é "sensacionalista (distorce os fatos e usa preconceitos)". A pesquisa foi encomendada pela Cufa, Central Única das Favelas. Por Marcelo Salles, do Fazendo Media, no Protoblog.
A edição de hoje (23) do jornal O Globo publica a pesquisa com exclusividade - e em manchete -, mas incorre no mesmo erro. Distorce números e os manipula conforme seus interesses político-econômicos e ideológicos. O dado acima, em que os entrevistados identificam a manipulação da mídia, por exemplo, simplesmente não aparecem no texto da reportagem. É relegado a um quadradinho entre outros oito iguais a ele, perdendo, assim, o impacto que poderia causar.
Outro item da pesquisa que teve a importância minimizada foi a afirmação de 73,2% dos entrevistados de que "a imagem que a sociedade tem da favela como 'reduto de marginais' é completamente distorcida, pois a grande maioria dos favelados é gente honesta". Essa questão está ligada à anterior, pois quem distorce essa realidade, em grande parte, são as corporações de mídia.
Esses dois pontos não mereceram destaque na primeira página do jornal e nem nos subtítulos, embora tenham sido mais expressivos que aqueles escolhidos pelos editores: "legalização das drogas, com 60,5% contra, e apoio ao uso do Caveirão e das Forças Armadas, com 47,9% e 48,9% respectivamente". Assim, abandonam-se dados extremamente impactantes para dar lugar a outros de menor impacto, mas que reforçam a linha editorial pretendida.
E, pior, entre esses últimos, há pelo menos um bastante discutível, que diz respeito ao uso do Caveirão. Primeiro porque, considerando que a pesquisa esteja absolutamente correta e que não tenha sofrido alterações devido a pressões de qualquer natureza, a porcentagem de apoio ao uso do Caveirão está abaixo da metade, o que não impediu o editor de usar nos subtítulos que "maioria apóia uso do Caveirão". Em segundo lugar, porque o índice mais elevado desse apoio foi constatado entre moradores de favelas que raramente - ou nunca - sofrem com a ação do carro blindado, sobretudo na Zona Oeste, que puxou a média para cima (61,4%), enquanto na Zona Norte, onde as incursões são mais freqüentes, o apoio ficou em apenas 33,6%.
A divulgação dessa pesquisa, com esse grau de manipulação, é particularmente perigosa no atual momento pré-eleitoral. Há sempre a possibilidade de as Organizações Globo estarem trabalhando para pautar os candidatos de acordo com seus interesses. Além disso, pode-se detectar uma tentativa de moldar a opinião dos moradores de favelas aos desejos desse grupo empresarial. Vamos acompanhar com atenção e divulgar essas informações de "contra-manipulação" para nossos amigos e listas de discussão. Depois da internet ficou mais difícil sustentar meias verdades e mentiras inteiras.
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2 comentários:
Muito interessante a matéria. Havia lido a matéria no Globo e pensei "Peraí, qual é a metodologia? Será que menos de 50% é maioria?", entre outras dúvidas.
Obrigado por proporcionar uma visão mais cuidadosa daquilo que tentam nos vender pasteurizado e com embalagem estilizada.
Douglas
Ótima matéria,mas eu queria levantar uma questão:
qual a vantagem de criticar a grande mídia,se,quem a lê não lê suas cr´ticias?
é quase espetacular isso : só quem não lÊ habitualmente veja critica veja
não estaríamos fortalecendo essas mídias,ao criticá-las? não seria melhor esquecê-las?
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