Resenha cultural: Longe dela

“Longe Dela” é um filme de grande lirismo. Com um tema forte, a jovem diretora Sarah Polley poderia ter transformado tal história num dramalhão, mas ao contrário, faz um filme cheio de sutilezas e de esperança. Por Raquel Gandra (*), repórter cultural da Revista Consciência.Net, da redação.

A jovem Sarah Polley, que vai fazer trinta anos em janeiro de 2009, mais conhecida por atuar em filmes como Don’t come knocking (Estrela solitária) de Win Wenders, Dawn of the dead (Madrugada dos mortos) e Go (Vamos nessa), acaba de dirigir seu segundo longa metragem: Longe Dela.

“Away from her”, no original, é um filme de grande lirismo. Com um tema forte, a diretora poderia ter transformado tal história num dramalhão, mas ao contrário, faz um filme cheio de sutilezas e de esperança.

Uma mulher, interpretada por Julie Christie, que com 67 anos de idade ainda deslumbra os espectadores com sua beleza, descobre que está começando a desenvolver Alzheimer. A partir daí, ela (Fiona) e seu marido, Grant, terão que lidar com a doença e suas conseqüências.

Falando assim, ainda não sinto que dê para perceber como o filme supera essa simples sinopse. Talvez se eu explicitar alguns de outros fatores como:

A montagem. A montagem não linear, principalmente no começo, se alinha com a mente da protagonista, um pouco confusa, com memórias que vêm e vão. Além disso, não há um processo detalhado, que normalmente se torna repetitivo e chato para que percebamos o que está acontecendo com ela. Em algumas cenas, poucas falas e determinadas expressões e ações conseguimos sacar exatamente o que está se passando. Mais uma vez, felizmente, um bom filme que sabe se resguardar quando precisa, sem explicar tudo tintim por tintim.

Isso faz parte da sutileza de direção e de roteiro. Longe dela é cheio de sentimentos ditos e não ditos. Alguns guardados, outros demonstrados. E todos eles enchem a tela através de pequenas frases e de alguns olhares decisivos.

A trilha sonora instrumental é linda, e ajuda a gerar a atmosfera dramática.

A fotografia se encaixa perfeitamente com o local em que a história se passa. Muita neve, muito branco, muito azul e marrom. Cores sóbrias que dialogam com a “secura” do enredo. É interessante, também, perceber as cenas em que Grant está olhando para Fiona, e uma luz forte ensolarada preenche todo o entorno de seu rosto em close, dando bem a noção do que ele sente por ela, e como ele a vê.

Algo fantástico é o modo como o casal lida com a doença de Fiona. Apesar da tristeza e da dor, há esperança, há brincadeiras e, principalmente, naturalidade. Outra coisa interessante é a humanidade com que essas pessoas mais velhas, dentro ou fora da “casa de repouso”, são apresentadas. Pessoas que apesar da idade, ainda têm desejos, ainda transam, ainda têm capacidade de se apaixonar.

Há muita generosidade no filme. Seja dos atores, que fazem um trabalho incrível e parecem ter se doado nos papéis, como dos próprios personagens. Grant, marido de Fiona, sofre muito com a nova situação, mas mesmo assim respeita o tempo de sua mulher e aprende a amá-la sem pedir nada em troca.

Essa para mim é a maior mensagem de “Longe dela”: aprender a amar. Um amor não egoísta, que vai além da necessidade de ter a pessoa que se ama. Um amor que se basta em amar e em querer bem a quem se ama.

Pois o amor ao qual se faz mais propaganda por aí é um amor pra si, um amor que exige. Como diz Fiona, “people wanna be in love every day”. A realidade não é assim, relacionamentos são difíceis, nem sempre se tem o que se quer, nem sempre somos correspondidos, etc etc etc. E isso é muito bem retratado nesse belo filme que consegue ultrapassar os clichês esperados nesse tipo de temática e criar uma narrativa suave, lírica e serena.

Veja o trailer:


(*) Raquel Gandra é repórter cultural da Revista Consciência.Net na área de cinema.


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