Sobre avestruzes e estátuas de sal

Celso Lungaretti

Como era de esperar-se, meu artigo PT quer voltar aos tempos do "Lula-lá" ( http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/02/pt-quer-voltar-aos-tempos-do-lula-la.html ) recebeu críticas à direita e à esquerda. Por enquanto civilizadas, o que já é alentador...

Os antipetistas gostariam que eu compartilhasse de sua rejeição absoluta e eterna ao partido. Ora, eu sempre disse que sou fiel aos meus princípios, acima de tudo.

Não dei um passo sequer em direção ao PT; foi o PT que veio ao encontro da posição acerca da nova crise cíclica capitalista que sustento há meio ano ( http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/2008/07/crnica-da-estagflao-anunciada.html ) e da posição acerca das alterações climáticas que sustento há dois anos ( http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/2007/02/contagem-regressiva-para-humanidade.html ).

Então, por uma questão de coerência, não posso deixar de aplaudir o documento elaborado pelo Diretório Nacional do partido, rechaçando o neoliberalismo e propondo "uma ofensiva contra a ideologia dos senhores do capitalismo mundial".

Faltou, claro, uma autocrítica pela adesão do Governo Lula a essa mesma ideologia no período 2002/2008.

Afora os pornográficos anúncios de recordes de faturamento bancário (propiciados pela política econômica herdada de FHC e mantida inalterada) que éramos obrigados a engolir mês após mês, não dá para esquecermos a profissão de fé no capitalismo que o próprio Lula subscreveu na reunião do G20: "os princípios de mercado, abertura comercial e de regimes de investimento e mercados financeiros eficazmente regulados estimulam o dinamismo, a inovação e o espírito empreendedor, essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza".

Há três meses -- apenas três meses!-- Lula afiançava que a crise capitalista seria apenas uma marola e não via motivos para descrer da excelência do mercado. Agora, o PT afirma que a intervenção do Estado para minorar os estragos causados pela delinquência capitalista "desmoraliza o discurso conservador hegemônico nos últimos 25 anos" e equivale à "queda do 'muro de Berlim' neoliberal".

Em política não convém omitirmos, como avestruzes, as verdades desagradáveis; nem olharmos demais para trás, sob pena de nos tornarmos estátuas de sal.

Então, optei por seguir também neste caso outro dos princípios que formulei para meu uso e procuro sempre manter: o de colaborar, com minhas ações e posicionamentos, para que prevaleça o que as pessoas e agrupamentos têm de melhor dentro de si.

Darei ao PT um voto de confiança em relação às diretrizes que acabou de anunciar, na esperança de que, desta vez, o partido se mantenha fiel a elas.

Mas, seria desonesto omitir de meus leitores que não foi assim que o PT agiu no passado, quando deixou de honrar as esperanças que despertara, principalmente em termos de bandeiras macroeconômicas (e, valeria acrescentar, éticas).

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