Lições do Processo de Reorganização Nacional, por Rolando Lazarte

O golpe militar de 1976 na Argentina (pomposamente autodenominado Proceso de Reorganización Nacional) deixou muitas lições nos sobreviventes, e muitos interrogantes. Por que eu e não os outros? O que é a vida, afinal? É só corpo ou algo mais? Sem ter se proposto a isto, os genocidas nos empurraram para o âmago da vida, para a essência da existência. Sem dúvida sem ter isto querido, nos forçaram a superar as fronteiras do egoísmo e da limitação territorial, conceitual, doméstica, intelectual. Levaram-nos além das fronteiras da nossa casa, da nossa família, do noso bairro, de nós mesmos, da nossa concepção de realidade, do que é bom, do que é desejável, do que é justo. Por contraste, ensinaram-nos, sem a isto terem se proposto, o valor da vida, da integralidade, da verdade, da justiça. Ao violentarem todo e qualquer princípio, nos mostraram, e disto lembramos todos os dias, o quanto vale uma vida decente, honesta, digna. Aonde está a pátria, afinal. O qué ser uma pessoa inteira, verdadeira, correta, veraz. As lições do processo são constantes para quem teve a sorte, a graça, o desafio de ficar vivo depois daquele horror que ceifou a vida de milhares de inocentes. Não pensem, por isto, que agradeço aos genocidas. Eles merecem, como todo delinquente, a sanção legal que mostre o que é certo e o que é errado. Os assassinos, torturadores, ladrões, mentirosos, falsários e sequestradores, prepotentes e usurpadores, devem ir pra justiça. Um Nuremberg arqentino vem aí. Aguarde. Há mais informações para este boletim.

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