Outro dia, na aula cujo tema era a sociedade civil, dava exemplos sobre os grupos, classes sociais, entidades representativas, ONGs, associações, movimentos sociais, etc. Citei, então, o MST como um dos movimentos que compõe a sociedade civil organizada. Um aluno, de supetão, perguntou sobre a minha posição, a favor ou contra.
Primeiro, pensei em não responder. A minha postura política-ideológica não era o tema da conversa. Nem mesmo o MST era o assunto da aula, mas apenas um exemplo entre outros. Decidi, porém, responder. O aluno esperava, a turma também. O silêncio impôs-se sem necessidade de solicitar, os olhares concentravam-se na figura do professor e ouvidos atentos aguardavam a fala. Foram alguns segundos, mas é um daqueles momentos em que o tempo parece parar.
Comecei expressando meu primeiro pensamento, isto é, que a minha posição política não era o assunto da aula. Em seguida, disse que a questão era complexa e exigia uma resposta não restrita ao “sim” ou ao “não”, considerando-se que estávamos no ambiente da sala de aula. Por uma fração de segundos, criou-se uma certa tensão. Respondi, em alto e bom som: “Sou a favor!”
No dia seguinte, lendo Ideologia e Utopia, de Karl Mannheim*, deparei-me com este trecho: “Mas existe uma profunda diferença entre um professor que, após cuidadosa deliberação, se dirige a seus alunos, cujas mentes ainda não estão formadas, de um ponto-de-vista adquirido por uma cuidadosa meditação, conduzindo a uma compreensão da situação total, e um professor exclusivamente interessado em inculcar um ponto-de-vista partidário já firmemente estabelecido”.
A sala de aula não é “escola de formação de quadros” de partidos ou da organização “x”. A postura do professor, portanto, não deve ser a do “doutrinador político”, daquele que procura ganhar “corações e mentes” para a sua causa. Enquanto cidadão e pessoa pública, ele tem outros espaços para defender suas propostas e ideologia. O professor tipo “dogmático” e “doutrinador” desconhece que sua contribuição maior não está em conquistar discípulos, mas sim em “preparar o caminho para se chegar a decisões” (id.). Ou seja, ele deveria apresentar e debater com seus alunos todos os aspectos que envolvem a questão, o tema. Às vezes ele até conquista um ou outro, mas presta um desserviço à ideologia que defende (tive professores, por exemplo, que não davam aula, faziam doutrinação; fortaleciam a fé dos convertidos, mas afastavam a maioria dos que até poderiam simpatizar).
Os companheiros que me desculpem, mas não considero que o papel do professor seja fazer doutrinação política. Claro, ele tem o direito a ter a sua posição ideológica e política; não acredito em neutralidade. O espaço da sala de aula não está isolado do mundo, nem os alunos, e menos ainda o professor, são neutros. A pergunta do meu aluno não foi ingênua, inocente. Fosse outro e poderia até tomar como provocação.
Por outro lado, estar em sala de aula, como afirma Paulo Freire, “é uma presença política em si. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper”.**
Isso, porém, não me dar o direito de “fazer a cabeça dos alunos”, de convertê-los ao meu credo. Esta prática é ainda mais grave quando se traduz em exigências, diretas ou veladas, de adoção do discurso do professor no processo avaliativo. É desrespeitosa e abusiva. É meu direito ser a favor do MST, mas devo respeitar se o aluno for contra. É seu direito!
Primeiro, pensei em não responder. A minha postura política-ideológica não era o tema da conversa. Nem mesmo o MST era o assunto da aula, mas apenas um exemplo entre outros. Decidi, porém, responder. O aluno esperava, a turma também. O silêncio impôs-se sem necessidade de solicitar, os olhares concentravam-se na figura do professor e ouvidos atentos aguardavam a fala. Foram alguns segundos, mas é um daqueles momentos em que o tempo parece parar.
Comecei expressando meu primeiro pensamento, isto é, que a minha posição política não era o assunto da aula. Em seguida, disse que a questão era complexa e exigia uma resposta não restrita ao “sim” ou ao “não”, considerando-se que estávamos no ambiente da sala de aula. Por uma fração de segundos, criou-se uma certa tensão. Respondi, em alto e bom som: “Sou a favor!”
No dia seguinte, lendo Ideologia e Utopia, de Karl Mannheim*, deparei-me com este trecho: “Mas existe uma profunda diferença entre um professor que, após cuidadosa deliberação, se dirige a seus alunos, cujas mentes ainda não estão formadas, de um ponto-de-vista adquirido por uma cuidadosa meditação, conduzindo a uma compreensão da situação total, e um professor exclusivamente interessado em inculcar um ponto-de-vista partidário já firmemente estabelecido”.
A sala de aula não é “escola de formação de quadros” de partidos ou da organização “x”. A postura do professor, portanto, não deve ser a do “doutrinador político”, daquele que procura ganhar “corações e mentes” para a sua causa. Enquanto cidadão e pessoa pública, ele tem outros espaços para defender suas propostas e ideologia. O professor tipo “dogmático” e “doutrinador” desconhece que sua contribuição maior não está em conquistar discípulos, mas sim em “preparar o caminho para se chegar a decisões” (id.). Ou seja, ele deveria apresentar e debater com seus alunos todos os aspectos que envolvem a questão, o tema. Às vezes ele até conquista um ou outro, mas presta um desserviço à ideologia que defende (tive professores, por exemplo, que não davam aula, faziam doutrinação; fortaleciam a fé dos convertidos, mas afastavam a maioria dos que até poderiam simpatizar).
Os companheiros que me desculpem, mas não considero que o papel do professor seja fazer doutrinação política. Claro, ele tem o direito a ter a sua posição ideológica e política; não acredito em neutralidade. O espaço da sala de aula não está isolado do mundo, nem os alunos, e menos ainda o professor, são neutros. A pergunta do meu aluno não foi ingênua, inocente. Fosse outro e poderia até tomar como provocação.
Por outro lado, estar em sala de aula, como afirma Paulo Freire, “é uma presença política em si. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper”.**
Isso, porém, não me dar o direito de “fazer a cabeça dos alunos”, de convertê-los ao meu credo. Esta prática é ainda mais grave quando se traduz em exigências, diretas ou veladas, de adoção do discurso do professor no processo avaliativo. É desrespeitosa e abusiva. É meu direito ser a favor do MST, mas devo respeitar se o aluno for contra. É seu direito!
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