Vítimas do silêncio

Aline Durães, Boletim Olhar Virtual (UFRJ) - Ruanda, 1994: oitocentas mil pessoas da etnia tutsi foram brutalmente assassinadas por membros da etnia hutu. Sudão, 2003: inicia-se um conflito que, ao longo de cinco anos, já dizimou mais de meio milhão de africanos negros de aldeias tradicionalmente agrícolas. Quênia, 2007: a suspeita de fraude no pleito que reelegeu o presidente Mwai Kibaki incitou uma onda de violência que, além de ter deixado mortos, obrigou cerca de 300 mil pessoas a fugirem de suas casas.

Esses são apenas alguns dos conflitos marcantes da história recente da África que, apesar de graves e com conseqüências nefastas para a população desse continente, aconteceram (e ainda acontecem) sob a mais velada negligência da grande mídia internacional. Poucos são os veículos de comunicação que divulgam e acompanham esses eventos. Mas, por que a imprensa mundial ignora as guerras étnicas africanas? Clique no título para saber.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os povos da África, bem como, as populações pobres da América Latina, são tanto "Vítimas do silêncio" dos grandes meios de comunicação quanto alvos de uma mecânica de poder que se engendra de maneira a tornar a vida dos membros das classes mais desfavorecidas da sociedade descartáveis. Autores como Agamben e Bauman, discutem, respectivamente, a produção da "vida nua", que é aquela que foi desumanizada e, por isso, tornada descartavel e "matável"; e a fabricação dos refugos humanos, daqueles seres humanos que, no movimento de nossa contemporaneidade, se tornaram lixo, sendo percebidos como o resto, a sobra de nossa sociedade.
o que espanta em nossos inúmeros genocídeos já tão naturalizados é a indeferença das pessoas que não fazem parte desse contigente de populações pobres ameaçadas pela morte, mas que, no mínimo, fazem parte daquilo que chamamos de humanidade. afinal, familias inteiras são aniquiladas; crianças morrendo de inanição por falta do que comer...
o pensador michel foucault, falecido na década de 1980, ao pensar nessa grande produção de morte que marcou o século vinte sustentou a hipótese que o que torna possivel e mesmo legitima tamanha atrocidade cometida contras as populações pobres de países miseráveis é, sobretudo, o racismo. para o autor, o racismo é aquilo que faz um corte entre as "raças" e permite estabelecer, dentro de uma mecânica de poder, quem merece viver e quem deve morrer. a equação do dispositivo do racismo pode ser apreendido na frase: "para que minha raça sobreviva e se desenvolva de maneira saudavel, é necessário que outras raças sejam aniquilidas."
já que a grande mídia é indiferente a esta questões, assim como a tantas outras mais, cabe a nós, cidadãos, questionarmos esta lógica pervesa e excludente que marca, hoje, a nossa sociedade. para tanto, temos que colocar em análise as nossas próprias misérias, nossos racismos e preconceitos, a fim de podermos, de fato, construirmos uma sociedade menos desigual e miserável.