Comentário: Faz mais sentido

Gustavo Barreto, da redação Consciência.Net

O Bom Dia Brasil de hoje (TV Globo) veiculou uma matéria comparando o tempo de locomoção de pessoas que faziam o mesmo trajeto em São Paulo, mas por meios distintos: carro, ônibus, bicicleta e a pé. Chegou a uma interessante conclusão: no trecho verificado, quem ganhou foi a bicicleta (metade do tempo do carro ou do ônibus). E, no final, em vez de chamar a Secretaria de Transportes para saber o que eles estão fazendo para ampliar as ciclovias, literalmente ignoraram a função pública do jornalismo. Simplesmente lamentam: "É uma pena".

É uma pena, na verdade, que os governos não estimulem meios de comunicação efetivamente comprometidos com as transformações sociais que o povo - esse mesmo, por exemplo, que pede por transporte público de qualidade - tanto deseja. É uma pena, mas é também para pensarmos o que fazer para mudar esta situação. Lamentar não adianta.

Toda a atenção aos bancos
Enquanto isso, toda a atenção da mídia está voltada para a aprovação de uma lei que ajudará o sistema financeiro dos Estados Unidos (leia-se bancos). Mantendo o velho estilo parcial de sempre - o secretário de Tesouro dos EUA é o único que aparece com seus argumentos para "salvar" a população norte-americana. A saber: quer que a lei seja aprovada rápido, sem discussão.

"Os investidores do mundo inteiro estão com a atenção voltada para o Congresso americano", repete a GloboNews mais tarde. "A Globalização não deve ser responsabilizada", ecoa outro correspondente da Globo, reproduzindo - é claro - voz oficial. Para falarem da crise, estão chamando apenas ex-diretores do Banco Central e banqueiros.

Enquanto isso, o povo por lá pergunta por que, depois de uma ingerência enorme no sistema financeiro, o governo deles deveria ajudar os bancos com o maior aporte financeiro de toda a história. Os comentaristas de plantão - aqueles que, conforme Bourdieu apontou, estão sempre prontos para confirmar a opinião geral - não sabem o que dizer, não conseguem respostas. Tudo agora é inédito e o mercado precisa "ser acalmado". Haja imparcialidade...

Além de não explicar onde a população brasileira entra nessa história, já que quem é efetivamente influenciado são investidores e agentes do "mercado" - gente com bastante grana -, a imprensa simplesmente apagou a agenda política brasileira. Deveriam mudar logo os âncoras e repórteres todos para Washington, cobrindo o Brasil a partir de lá. Faz mais sentido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Opaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!

Parabéns pela abordagem, não cheguei a ver esta matéria hoje pela manha no jornal...mas pelo que lí... Eu já fazia idéia de que as bicicletas eram mais eficientes, só confirmou minhas idéias...

É lastimável como a mídia focaliza em assuntos que não são de "utilidade pública", fica complicado de a população distinguir o que deve ser de interesse próprio sendo que isto não é focado com mais delicadeza nem por parte da impressa, que é o maior veículo de informação...

Enfim, ainda há muito que se fazer... E vejo que os blogs são mais uma ferramenta para este vínculo.

Daiane Santana