Ex-ministro da Agricultura é flagrado escravizando trabalhadores (por Celso Lungaretti)

Nome: Antonio Cabrera.

Antecedentes: ministro da Agricultura em 1990/92 (Governo Collor); secretário da Agricultura de São Paulo em 1995/2001 (Governo Mário Covas).

Ocupação atual: proprietário do Grupo Cabrera, cuja usina de cana em Limeira do Oeste (MG) foi autuada por manter 184 trabalhadores em situação análoga à de escravos.

Divulgada somente nesta 4ª feira (6), a fiscalização foi realizada no mês passado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e por promotores do Ministério Público, com o apoio da Polícia Federal.

Constatou que a jornada de trabalho era excessiva; os equipamentos de proteção, inadequados; e os alojamentos, irregulares.

Segundo o procurador do Trabalho Eliaquim Queiroz, operadores do plantio mecanizado, técnicos agrícolas e auxiliares chegavam a trabalhar QUASE 18 HORAS DIÁRIAS (!!!) em finais de semana, incluído o tempo gasto no transporte.

Vieram-me à mente os relatos chocantes de Marx sobre a rotina nas minas de carvão do início do capitalismo.

Cabrera fez constar em ata sua "sua discordância quanto à existência de condições de trabalho degradantes ou análogas".

O que não o impediu de firmar um acordo judicial pelo qual se comprometeu a pagar entre R$ 500 e R$ 1.800 de indenização a cada trabalhador, por danos morais; além de R$ 120 mil por danos morais coletivos.

Ou seja, negou a culpa em termos retóricos e admitiu-a para efeitos práticos.

Que cada um julgue:
  1. se isto é aceitável num ex-ministro e ex-secretário da Agricultura;
  2. se este comportamento é uma exceção ou uma regra entre nossas autoridades governamentais;
  3. se podemos esperar dessa gente algo mais do que isto.
ESTATUTO DA GAFIEIRA - A sequência de episódios desmoralizantes envolvendo expoentes do Executivo, Legislativo e Judiciário ao longo desta década, sem poupar sequer aqueles em quem mais acreditávamos, nos faz responder "não" ao terceiro quesito

Meu grande amigo Luiz Alberto de Abreu, teatrólogo consagrado, é um cético de esquerda.

Seguindo os passos do inesquecível Augusto Boal, dedica o melhor do seu tempo a escrever e ajudar a encenarem peças que levem as vítimas do capitalismo a tomarem consciência de sua condição; e a formar novos quadros para o teatro popular.

Mas, de Brasília quer distância.

Avalia que quem tem assento na corte, quer se apresente como de esquerda, de centro ou de direita, é solidário mesmo aos demais cortesãos; à casta a que pertence, enfim.

E tudo faz para bloquear o acesso de intrusos aos privilégios de que desfruta: quer mesmo é conservá-los para si e para os que já participam da farra. "Quem está fora, não entra; quem está dentro, não sai", como rezava o estatuto da gafieira...

Eu ainda não desisti da ação política propriamente dita. Mas, de Brasília, sim. Há muito tempo.

Só acredito no que logremos organizar fora do Estado; na alternativa ao capitalismo que consigamos engendrar "nas escolas, nas ruas, campos e construções", como dizia o Vandré dos bons tempos.

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