Não foi o cartão de crédito que derrubou a ministra

Os setores midiáticos que a derrubaram não miravam nela, mas no que o seu cargo representava e espero continue a representar, uma trincheira para implantação de políticas afirmativas que ajudem a superar a enorme desigualdade entre negros e brancos. Por Renato Rovai (*).

Mais uma boa cabeça é entregada para saciar a gula de setores da mídia. A ministra Matilde Ribeiro não foi escolhida para ser a bola da vez à toa. Os 400 paus que gastou no Free Shop (e não devia ter feito isso) foram devolvidos e no máximo o que cabia pela bobagem era uma advertência pública do presidente ou de um ministro político. Estaria de bom tamanho o porta-voz dizer que o presidente presidente da República não iria demitir a ministra porque não considerava esse um erro grave, mas que havia passado um comunicado a todos os ministérios impondo novas normas para o uso do cartão.

Além do quê, no governo Lula esses gastos foram reduzidos em praticamente 30% se comparados com o governo FHC. Na época não havia cartão, o ministro usava cacau, dindim mesmo. E ponto. Ninguém precisava saber onde ele gastou o quê. Além disso, as contas não eram publicadas na internet. E hoje são. Aliás, como cobrou o o me colega de blogosfera Eduardo Guimarães, por que os gastos do governo de São Paulo ou de Minas também não são publicados na internet?

Não sei o que a ministra comprou com o dinheiro, se perfumes, bombons, uma caixa de uísque ou ainda um aparelho de som para a sua sala do ministério. Seja o que for, errou. Devolveu o dinheiro e deveria ficar no cargo. Porque faz bom trabalho e não é corrupta, como tentaram insinuar setores da mídia. Qualquer idiota sabe um ministro não precisa de cartão de crédito para roubar. Se for ladrão ele nem vai usar essa porcaria.

O problema é que os setores midiáticos que a derrubaram não miravam nela, mas no que o seu cargo representava e espero continue a representar, uma trincheira para implantação de políticas afirmativas que ajudem a superar a enorme desigualdade entre negros e brancos.

A ministra Matilde sempre, no mínimo, tentou encaminhar as demandas que a luta histórica do movimento negro esperavam ver atendidas. Não é tarefa fácil ser ministro dessa pasta. Espero que ela seja substituída por alguém com os mesmos compromissos e propósitos. Este blogue é solidário a ministra e considera que ela foi séria ao admitir que cometeu um erro administrativo no uso do cartão. E este blogue sabe que a campanha da mídia para que ela saísse também não foi por conta disso.

(*) Renato Rovai é editor da revista Fórum outro mundo em debate. Original aqui.

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Um comentário:

junior.rafael disse...

Sou contrário a suas idéias, a ex-ministra Matilde Ribeiro como os outro ministros que usaram seus cartões de forma indevida e abusiva somente se retrataram publicamente porque foi intensamente divulgado pela mídia.
O cargo de ministro da Promoção da Igualdade Racial, infelizmente, ainda é de fundamental importância já que o racismo existe e está presente em todos os lugares do Brasil, mas para ocupar tal cargo é nesessário uma pessoa competente e não uma pessoa como Matilde Ribeiro que com pensamentos (por incrível que pareça) racistas, como:
"não é racismo quando um negro se insurge contra um branco", demonstra sua irrresponsabilidade e falta de competência. Suas políticas públicas de igualdade racial são ainda muito ineficientes, voltadas principalmente para a população negra excluindo brancos e pricipalmente índios, nossos índios que foram e são ainda hoje marginalizados e escravos.